O Edifício Banespa no imaginário da cidade
Durante um longo período, o “Prédio do Banespa”, (atual edifício Altino
Arantes, em homenagem ao primeiro presidente brasileiro do antigo banco
paulista) foi considerado o mais alto da cidade. Essa honraria, tempos
depois, seria transferida ao Edifício Itália, com seus 165 metros , e mais
tarde, ao Edifício Mirante do Vale, com seus avantajados 170 metros de
altura. Entretanto, por duas décadas, e
para muitos, até hoje, o edifício Banespa tornou-se, sozinho e isolado, um
símbolo vigoroso da paisagem urbana de São Paulo.
“Quarta-feira, 15 de agosto
de
Pelo calendário, nessa quarta-feira de
agosto, decorriam exatos 21.618 dias da aguardada inauguração, daquele
que por mais de 20 anos seria considerado
o edifício mais alto da cidade de São Paulo. E acrescente-se mais: de acordo
com a Revista Science et Vie, o nosso “Empire State Building”, (sim,
porque o Edifício Banespa foi inspirado no seu irmão maior de Nova
Iorque), acentuava aquela publicação francesa, que estávamos diante do “edifício mais
alto do mundo em construção de concreto armado, com exatos
“ O Edifício do Banco do
Estado de São Paulo, que se inaugura oficialmente amanhã, é o mais alto da
América do Sul, atingindo a altura de
Voltemos à data!
Esse 15 de agosto de 2007, para efeito desse registro, é digno de nota. O Jornal da Tarde, de São Paulo, nessa quarta-feira de agosto, no caderno Variedades, traz em matéria de capa, o título “Bebel em Sampa”. Na verdade, “Bebel” é a personagem da atriz Camila Pitanga na novela da rede Globo, chamada Paraíso Tropical. Entretanto, a foto-montagem é que se torna reveladora e, evidentemente, reforça e acentua essa nossa análise. Vamos a ela: A imagem registra uma ampla vista da cidade de São Paulo, com grande parte dos seus imponentes edifícios “marcadamente” conhecidos. À esquerda de quem olha para a foto, o Edifício COPAN, com sua arquitetura destacada, e mais ao fundo, o Edifício ITÁLIA, com sua altura privilegiada; à direita, o imponente Edifício MARTINELLI, parcialmente encoberto pela figura da atriz/personagem em primeiro plano, ensaiando, como acentua a matéria, a sua “avant premiére” na cidade de São Paulo (a novela é situada no Rio de Janeiro), o que atende, acertadamente, ao título proposto pela editoria do jornal: “BEBEL EM SAMPA”.
Entretanto, se deixássemos só por isso, faltaria algo para que a manchete atingisse o seu pleno significado aos olhos e mentes dos leitores. Dissemos, faltaria... No entanto, a foto-montagem, assinada por Alex Freitas, preenche com louvor essa lacuna, colocando, exatamente no centro da imagem, o imponente Edifício Altino Arantes. E vemos nele, nesses quase 22 mil dias decorridos da sua inauguração, como num espelho, os reflexos precisos da sua simbologia, ainda em pleno vigor no imaginário dos leitores. Entendemos que o Edifício Banespa empresta completude à matéria. É pela força imagética do Edifício, grandiosamente centralizado e apresentado na imagem, por sua imponência, sua arquitetura, por suas linhas em forma de uma seta que se direciona ao céu, que aponta para o alto, como algo por decifrar, que vemos, todos nós, ali estampado no jornal, a cidade de São Paulo que “Bebel” irá descobrir e desvendar.
O prédio, somado aos demais, direciona o leitor para esse imaginário. O edifício torna-se, na foto-montagem, um signo a ser conquistado nessa “Torre de Bebel”, que é a própria cidade de São Paulo. Ali, nessa Sampa simbólica, com todos os ingredientes de uma das maiores e mais populosas cidades do mundo, que Bebel/Camila Pitanga, na ficção, poderá “reinar” com “catiguria” (expressão da personagem para se referir às novidades e aos bem-sucedidos). A foto-montagem, ao emprestar esse entendimento aos leitores, passa revelar o que a vida real nos mostra de fato: o antigo prédio do Banespa, atual Altino Arantes, no auge dos seus 60 anos, completados em junho de 2007, mantém-se, ainda hoje, como um símbolo representativo da capital paulista.
Diversos fatores, certamente, contribuíram para permanência do prédio no imaginário da cidade. A própria construção do edifício, aliado a muitas dificuldade, traz elementos essenciais para o fortalecimento da sua presença entre nós. Segundo Spirandelli, autor de um estudo sobre o edifício, o prefeito Prestes Maia surge nos momentos cruciais dessa implantação. A predileção do prefeito pelos arranha-céus nova-iorquinos, permitiu que em seu Plano de Avenidas, ele fizesse uso de uma frase providencial de Burhan, que pode ser assim traduzida: “ Não façam pequenos planos. Eles não tem a magia para mover os homens. Façam planos grandiosos”. Se os planos grandiosos tem mesmo a magia para mover os homens, essa aura pretendida por Burhan/Prestes Maia encontraria ali, o local exato e o endereço certo. A historicidade do edifício comprova que ele não é apenas um dos cartões-postais da cidade, ou somente um marco referencial da paisagem paulistana. Para Spirandelli*, o prédio integra a própria história de São Paulo:
“O Edifício Banespa não foi espectador
passivo do desenrolar dos acontecimentos que formaram a capital paulista; seu
destino esteve sempre ligado às lutas do povo bandeirante – que não se atemoriza
diante do desconhecido – e sua presença é a prova em concreto-armado, de como
obstáculos existem para serem estudados e transpostos, e servirem de
experiência e estímulo às vitórias desejadas (...) A singularidade de sua história deve-se
ao fato de ter sido ao longo de mais de cinco décadas, o traço marcante dos
fatores que promoveram o desenvolvimento urbano da cidade: o café, a indústria e o capital financeiro
(...)”