POESIAS
A Inquietude Intima das Ostras
Edição LivroRápido 2018
Seguem algumas poesias. abs.
ENSAIO
PARA NAVEGAR MARES
Ponha a mão na
consciência... Pare e pense!...
Tudo
tem uma semelhança, quando anda, avança
e
reflete o que te convence...
Seja
um mero acidente ou pura coincidência,
tudo
tem a sua vertente no limite da
paciência!...
Ponha a mão na
consciência... Pare e pense!...
Alcançar
o melhor de si na espraiada da inocência
ou
seguir errante e a esmo nos mares de si mesmo?!...
Muitos
podem navegar um rio, mas não há braços
que
naveguem o nosso imenso vazio!...
Ponha a mão na
consciência... Pare e pense!...
O
que nos impele à vida, ao desafio
de
alcançar o inatingível ou a outra margem do rio...
A coragem que desata ou o excesso de calafrio?
Ponha a mão na
consciência... Pare e pense!...
Entre
o além do quero e o aquém do que faço,
há
um desejo segue agarrado aos meus
passos
como
um salto no precipício ou um voo no espaço!...
Ponha a mão na
consciência... Pare e pense!
Pra
seguir sobre um mar movediço
ou ir
além das evidências,
apenas
uma resposta breve, nos convence:
Será que vences?!...
Será que vences?!...
SAPATOS
Os
meus sapatos testemunham os meus atos,
sem
qualquer quê de paixão ou de encanto,
jogados
aos pés da cama, inocentes ou castos,
ambos
me querem cúmplices em qualquer canto.
Não.
Meus sapatos nunca abrem o bico:
Mantêm-se
grudados como lábios em beijo;
e
quietos, lacrimosos, reticentes ou pudicos,
seguem-me, arrastando e carregando o peso...
Mais
que o corpo, suportam uma temeridade:
os
meus sapatos buscam o sentido da alma,
experimentam
o desespero, a paixão e a calma...
Engolem
sapos, os meus sapatos, ou na voracidade,
suga-lhes
o licor, o fel e o veneno que tanto acalma
o
obstinado senso de utilidade que a vida espalma.
JOGO DE
DADOS (Falácia)
Pra te
querer contente
perderam-se
muitos ventres.
Pra te
sentirmos vivo,
fizemos
índices e probabilidades.
Pra te
aceitarmos criança
multiplicamos-te
aos milhares...
Pra te
percebermos gente,
criamos
distantes adjetivos
te
revelando forte, adulto,
carente...
Pra te
falarmos da vida
fabricamos
os códigos,
a
conduta e o rabo-preso.
Mas a
imagem, língua sem travas,
te
realiza belo pra nos atentar!...
CLASSIFICADO PÉ-DE-PÁGINA.
Reclamem Zé Pedro, por mim, suplico!
Nome de
batismo: José Pedro da Silva.
Há de
haver esse crédito, afirmo.
Gritem
nas ruas, nas roças, nas praças, anunciem no alto-falante...
Acessem a
internet, se preciso; liguem os centros,
países, vielas,
todos os
bairros: Zé Pedro!
O menino
de calças-curtas, botinas enlameadas e camisa xadrez...
Um rosto
sereno - redemoinho no cabelo- e os olhos no futuro.
Há de
estar por aí, asseguro!
Zé Pedro.
Desaparecido na quarta série primária.
A voz
envergonhada camuflando todos os sonhos...
Trabalho,
coragem, luta e uma dor indecifrável serão pistas.
Não há bilhetes, porque essa gente
não manda, faz!
Reclamem Zé Pedro!
Olhem
arquivos, armários, fichas escolares... Confiram a letra,
uma
caligrafia inconfundível, as inclinações...
Afinal, o
que é a vida?
Grafoscopia, linha das mãos, destino ou ironia?
Grafoscopia, linha das mãos, destino ou ironia?
Revirem
tudo, decifrem hierógrafos, se preciso.
Visitem a
bíblia, usem o DNA, ou seja lá o que for!
Procurem Zé Pedro.
Suplico
um pensamento positivo, façam corrente
até.
Não há
dúvidas, é dívida:
Precisamos desse patrimônio vivo!
Precisamos desse patrimônio vivo!
Mestres,
perdoem-me se insisto, puxem pela memória.
O
primeiro da fila - tímido, matuto,
uniforme azul e cinto...
Um
sorriso meio ingênuo, um gesto meio adulto...
Reclamem Zé Pedro!
Ah! Se
visssem, ouvissem e soubessem
como ele rezava o beabá dos animais e a ciência das plantações:
(os rios, o sol, a lua, as estrelas e a chuva!)
(os rios, o sol, a lua, as estrelas e a chuva!)
Reclamem Zé Pedro!
Menino,
criança, jovem...
o Homem, onde ele estiver que me ouça:
o Homem, onde ele estiver que me ouça:
Receio a
história, todas as histórias,
sem o justo e verdadeiro herói!
sem o justo e verdadeiro herói!
O
BORBULHO DAS ÁGUAS
Fatiar a água
e
servi-la aos pedaços...
Agarrar o
tempo sob os braços e adulá-lo, tão eternecido
como se afagasse um filho ao som
de um estribilho de ninar...
Fatiar a água
e
servi-la em porções...
Celebrar
o instante em banho-maria:
reservar
no mais sublime dos corações,
o calor de dois corpos que se atraem
em frenética
paixão...
Fatiar a água
e
torná-la hóstia...
E então
ser capaz da pura calma
ao comer
o próprio corpo
e
sorver-lhe a primazia da alma:
enxergar
a revelação do fugaz,
a
transitoriedade da vida,
o frágil
e a sensibilidade
em seu
ápice de concretude.
Fatiar a água
e
assentá-la, ainda incandescente,
por entre
as labaredas do fogo.
Dominar
na fervura, os desejos do corpo:
traduzir em gestos nus e frementes,
o âmago da ansiedade candente.
Fatiar a água
e
conduzi-la em carruagens-origami
pelas
galáxias infindáveis do universo... Tocar na razão de todas as formas de vida
e traduzi-la
sem meias palavras:
trincar o
passado...ruir o presente...
e
reinventar o Avatar do novo futuro.
Fatiar a água
e esculpi-la como um barco-navegante
aos mares de si mesmo:
rumo à
terra dos homens dignos,
à espraiada
da inocência e compreensão,
rumo ao país de todos os amores!...
O
DIA SUBSTANTIVO
Um
dia substantivo
que me atravesse
sem medo
pelos caminhos
de um campo minado... ou me
silencie da iminente explosão.
Um dia que me cegue, no ato, a
poeira do chão.
Um dia
substantivo, sem alarde,
acenando
gestos à
eternidade,
antes que seja
tarde!...
Um
dia substantivo
que me arraste
à beira do abismo,
ou me atire às
profundezas abissais.
Um dia que
ignore nas minhas palavras vãs,
a sanha,
a súplica e o desespero...
Um dia
substantivo, sem alarde,
como as horas mortas da tarde,
antes que seja tarde!...
Um
dia substantivo
que me leve em
silêncio puro
ao rufar
esfuziante das ondas do mar.
Um dia que me afogue
o corpo e a alma
entre o oceano e a linha do horizonte.
Um dia substantivo, sem alarde,
suplicando-me que a vida aguarde,
antes que seja tarde!...
Um
dia substantivo
que me traga um
grito torto, reto e líquido,
dissipado
num gesto sem exclamação...
Um
dia que me deixe mudo nos becos e esquinas,
entre o espanto e a cópia xerox.
Um dia
substantivo, sem alarde,
queimando-me o
fogo que arde,
antes que seja
tarde!...
Um
dia substantivo
que me
interrompa a claridade inútil
e me
dispense o azul e a escuridão...
Um dia que me arraste
à luz total,
ao brilho lúcido da
transparência no espaço.
Um dia
substantivo, sem alarde,
sentindo o que
dentro e fora me invade,
antes que seja tarde!...
Um
dia substantivo
que me leve vertiginosamente ao fim,
sobre as
escadas espiraladas em torno de mim...
Um dia que me acene
com um mergulho sem volta,
ou a iminente
queda de um precipício à minha volta.
O dia
substantivo, sem alarde,
o dia concreto,
abstrato, antes que tarde,
antes que
seja tarde!..
Ando à míngua...
trago comigo
todas as línguas-mortas
na ponta da
minha língua.
Uma outra
linguagem, o que sou: surda-muda!...
Ando à míngua...
à espera de um
aceno no reino do universo,
e então serei
farto em prosa e verso:
Hei de me saciar
a pleno pulmões,
e não há de
estuporar essa íngua,
pois recusarei o
banquete de Pélope
e não viverei o suplício de Tântalo*...
Nunca mais a
fome, nunca mais a sede...
Seguirei ímpar,
multilíngüe, como sei, como sou...
Um incansável
decifrador de hierógrafos,
Uma nave-mãe
levando o meu epitáfio para o futuro:
“Saudações,
a quem quer que seja.
Trago
boa vontade e paz através do espaço”**
(*) Tântalo, filho de
Zeus, casado com Dione, teve três filhos.
Ousando testar os deuses,
serviu-lhes a carne do próprio filho Pélope. Lançado ao Tártaro, num vale com
abundante vegetação e água, foi
castigado a não poder saciar sua fome
nem a sede.(Mitologia grega).
(**) Paráfrase à
mensagem da Missão Espacial Européia em pesquisa sobre a origem do sistema
solar, a vida na terra e a provável existência de vida em outros planetas.
12-EU, MANEQUIM
Carrego em mim,
um Manequim,
tal qual
sou: assim, assim, assim...
Nele, sigo
sempre à procura de mim,
desejando o
início, o meio e o fim.
Quando em mim
surge um não, nele,
no
Manequim, aflora e emerge um sim...
Então,
seguirei nesse paradoxo até o fim?
Não sei,
entretanto, sigo contínuo, afim..,
Molda-me à sua
semelhança, o Manequim
ou moldo-o à
imagem em torno de mim?
Sendo ele,
tenho ganhos e ganhos, outrossim,
sendo eu, padece
ele, a escultura de mim.
Por vezes, penso
e digo: “cuidado”; enfim,
há
manequins, e dentre eles, os Querubins...
e neste caso,
não respondo nada por mim:
aos Anjos,
Arcanjos e Serafins, digo sim.
Serve-me, então,
o Manequim? Temo que sim.
Um homem há de
ter sempre o seu duplo, por fim,
será ele, e não eu, a própria redenção de mim.
Afirmo e
reafirmo: seguirei com ele até o fim...
Assim, sei que
não farei nenhuma falta a mim:
o que não fui,
não sou e quero, dou-me ao Manequim!...
......
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