quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O POEMA POR DIZER (Mãe)


Dedicado a minha Mãe, dona Tunica, que nos deixou em Outubro de 2019. 



O  POEMA POR DIZER (MÃE)


Mãe, nas horas mais silenciosas da tarde, 
eu e meus irmãos pensamos  nos  teus olhos:
Uma visão frágil, fragilíssima,
regada à glaucoma com neblina e névoa espessa,
o que te obriga a um olhar enviesado e torto
quando te olhamos  frente a frente...

Mãe, quando, crianças,  te vimos matar uma  galinha;
nossos olhos, assustados, disseram em segredo:
quanta impunidade!...
Mas não demos um pio, não dissemos nada
pra  não estragar  a festa do arroz branco
com  o molho pardo.

Mãe, quando te vimos em sorrisos, e linda, 
ser acusada  de  ceder à cobiça e sedução...
nosso corpo ferveu diante de tamanha desonra!...
Mas não demos um pio, não dissemos nada
pra não romper o sagrado que nos habita.

Mãe, em maio, vimos a tua foto de véu e grinalda...
Nossos olhos enxergaram o Pai  te conduzindo...
Mas não demos um pio, não dissemos nada
pra não interromper o teu  caminho além do altar. 

Mãe, quando te vimos  envelhecendo no viés do tempo,
seguimos juntos,  seguimos todos nós nos  seus passos...
Mas  não demos um pio, não dissemos nada, nada,
pra não trincar o desejo de te oferecer a Eternidade!... 


Texto:  Celso Lopes 


Nenhum comentário:

Postar um comentário