Dedicado a minha Mãe, dona Tunica, que nos deixou em Outubro de 2019.
O POEMA POR DIZER (MÃE)
Mãe,
nas horas mais silenciosas da tarde,
eu
e meus irmãos pensamos nos teus olhos:
Uma
visão frágil, fragilíssima,
regada
à glaucoma com neblina e névoa espessa,
o
que te obriga a um olhar enviesado e torto
quando
te olhamos frente a frente...
Mãe,
quando, crianças, te vimos matar
uma galinha;
nossos
olhos, assustados, disseram em segredo:
quanta impunidade!...
Mas
não demos um pio, não dissemos nada
pra não estragar
a festa do arroz branco
com o molho pardo.
Mãe,
quando te vimos em sorrisos, e linda,
ser
acusada de ceder à cobiça e sedução...
nosso
corpo ferveu diante de tamanha desonra!...
Mas
não demos um pio, não dissemos nada
pra
não romper o sagrado que nos habita.
Mãe, em maio, vimos a tua foto de véu e grinalda...
Nossos
olhos enxergaram o Pai te conduzindo...
Mas
não demos um pio, não dissemos nada
pra
não interromper o teu caminho além do altar.
Mãe,
quando te vimos envelhecendo no viés do
tempo,
seguimos
juntos, seguimos todos nós nos seus passos...
Mas não demos um pio, não dissemos nada, nada,
pra
não trincar o desejo de te oferecer a Eternidade!...
Texto: Celso Lopes
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