QUEM
ME LEVARÁ FLORES...?
Creio que os epitáfios famosos ou
convincentes, registrados em lápides ou túmulos, estão fadados à morte. Quer dizer – estão com
os dias contados!... Em tempos de WhatsApp, é comum já virmos mensagens com letras garrafais brancas sobre o fundo preto,
informando LUTO ou CONDOLÊNCIAS, com as devidas
explanações particulares da família e, eventualmente, dos amigos.
A prosseguir neste caminho, deixaremos de nos fixar em mensagens que nos
aprazia em visita aos túmulos de personagens que, se não éramos amigos,
conhecíamos de nome.
Seja um escritor como Álvares de
Azevedo - “Foi poeta, sonhou e amou na vida.", seja um
anônimo brincalhão com a própria sorte:
"Bati as botas!"
(epitáfio de um sapateiro), “Acabou-se o
que era doce” ( epitáfio de um Confeiteiro). Não é difícil pesquisar referências a
epitáfios destacados: Para Frank Sinatra, por exemplo, cantor, ator e
produtor, escreveu-se na lápide: “O
melhor ainda está por vir”, nome de
uma famosa canção sua. De um pistoleiro
do Velho Oeste americano, Robert B. Allison, segue uma frase imponente: “Ele
nunca matou um homem que não precisasse
ser morto”. E por aí vai; vejamos o
caso de Murphy A. Dreher Jr., de quem
não se pode dizer que não era uma pessoa otimista: “Isto não é tão ruim, uma vez
que você se acostuma”. Do
apresentador de TV, músico, cantor, ator e magnata da mídia americana, Merv Griffin, surge uma frase que acerta o
centro do alvo: “Eu não vou voltar depois
desta mensagem”.
Ainda sobre epitáfios, temos que
observar também certas referências registradas em vida; e que, por ventura,
simbolizam o ‘momento final’ de maneira poética e, por vezes, ainda de forma profunda como o próprio túmulo. Veja-se, por exemplo, a música Epitáfio
(banda de rock TITÃS), que resgata atitudes
ou frases de uma pessoa que já morreu e gostaria de mudar
as coisas, se tivesse a possibilidade de viver novamente. Eis o texto básico:
(...) “Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer” (...)
Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol se pôr (...) Devia
ter me importado menos, com problemas pequenos, ter morrido de amor”.
Nosso poeta romântico maior, Vinicius de Moraes, já
em 1950, não deixou por menos o seu epitáfio em vida. Pode-se dizer que a
frase lapidar do poema “A hora íntima” segue além-túmulo revelando a própria
alma do poeta ainda vivo: “Quem pagará o
enterro e as flores se eu me morrer de amores?”...
Mas há,
ainda, outros versos questionadores,
precisos e preciosos: “Quem,
dentre os amigos, tão amigo, para estar no caixão comigo?”, ou ainda: “Quem
virá despetalar pétalas no meu túmulo de poeta?”, e mesmo: “Quem, oculta em
véus escuros, se crucificará nos muros?, e também: Quem cantará canções de amigo no dia do meu
funeral?
Ainda que não cheguem às lápides ou túmulos, ganham
sobrevida constante os epitáfios dessa natureza na mão e nos versos dos poetas,
pois escrevem ao vivo, em cores e em vida. A despeito do Whatsapp, creio que nos resta, também, seguir os poetas, ainda que
seja como mensagens póstumas, pois, com competência, sempre acertam o alvo. É o que nos acena Ricardo Reis, heterônimo de
Fernando Pessoa num provável epitáfio em seu túmulo, cujas palavras cantam a nossa própria vida: “Para
ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe
quanto és no mínimo que fazes. Assim, em cada lago a lua toda brilha, porque
alta vive”.
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