Dalva Altobelli se revela em sua poesia. Em
seu eu poético expõe-se de corpo e alma.
Entra de cabeça pelas águas turvas onde
quer porque quer o porvir e/ou se redescobrir
diante de si mesma. Para tanto, mantém-se atenta ao tempo, tentando segurar a ampulheta,
sua companheira inseparável nesta jornada, e ao mesmo tempo, o algoz de seus sonhos...
A poeta
reafirma em versos finais: “Meu grito é inútil. Ninguém ouve a minha
voz”. E é essa coragem reveladora que a sua
poesia alcança, e que nos leva a habitar essa morada. Há mesmo esse despojamento revelador de
perdas, às quais, a poeta busca e tenta incessantemente
resgatar para dar a volta por cima; e é assim
que canta em seus versos, a sua energia rigorosa
para viver o seu tempo.
Nessa submersão que faz para as
regiões profundas desse mar a ser descoberto e desvendado, seguimos sentindo a sua ânsia através das palavras que nos engolem por inteiro na missão da sua poesia:
“...
deixei meu rastro, mastro de minhas naves naufragadas (...) deixei meu sangue,
rubro veneno que mata a mim mesma (...)”
Arrisco dizer que a poesia de Dalva
Altobelli, seguramente, trilha expoentes importantes da nossa literatura
poética. A seguir nessa trilha, a autora
fará confirmar a intenção e o gesto. A
pessoalidade dela própria na poesia, que por instantes, poderia nos levar à
simplicidade do fazer poético, já no
mesmo instante, agiganta-se, pela amplitude com que redesenha a sua e a
nossa viagem através dos versos:
“Por
mares singrados, deixei tempestades, brado insolente em busca do nada. Por
outras vidas, deixei meu soluço, dor lancinante das minhas feridas. Por você me afastei da luz, e hoje ardo
sozinha nas trevas do meu próprio inferno”.
Os versos de Dalva Altobelli, por vezes,
flertam com rimas, no entanto, é a liberdade da sua escrita poética que
transcende a sua verdade escondida, e
que faz submergir ao leitor, em imagens sutis e inusitadas:
“ O
ar rarefeito já sufoca. Nem mesmo meu grito sai da garganta estrangulada. Não sei
se tenho forças para chegar à beira da
estrada . Não encontro cordas para sair do precipício. E se as tivesse, meus braços estão inertes. O
ar é vidro moído, o soluço é baixo”.
Em um paralelo oportuno, ainda que deva ser
melhor aferido, lembro aqui versos do
poema “O Mergulhador”, de Vinicius de Moraes, em uma estrofe primorosa que
realça a busca e o descobrimento do poeta:
“(...) Amo-te os grandes olhos sobre-humanos/
Nos quais, mergulhador, sondo a escura voragem/ Na ânsia de descobrir, nos mais
fundos arcanos/ Sob o oceano, oceanos; e
além, a minha imagem (...)”
O ar rarefeito, quase inexistente, e
brutamente feito de “vidro moído”, bem como, o sofrimento silencioso de
Altobelli, revelado para si mesma em “soluço
baixo”, também, como ao “poetinha maior”,
nos indica e reforça a sua busca e o desvendamento do seu mundo. Essa é a
trilha poética de Dalva Altobelli. Enxergamos nela, a poesia sem freios para o
pensamento, pois como acentua e informa: “o
pensamento alcança mar aberto e sem fronteiras, aporta no infinito”
A poesia de Dalva Altobelli é assim, um alter ego de si mesma... uma marinheira que
sofre feliz porque tem o mar infinito
como estrada. A nós, leitores, cabe seguir-lhe os passos, e aproveitar ao
máximo esse caminho.
Texto: Celso Lopes elipse84@terra.com.br Julho/2020
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