sexta-feira, 31 de julho de 2020

O mergulho corajoso da poeta DALVA ALTOBELLI


Dalva Altobelli se revela em sua poesia. Em seu eu poético  expõe-se de corpo e alma. Entra de cabeça pelas  águas turvas onde quer porque quer  o porvir e/ou se redescobrir diante de si mesma. Para tanto, mantém-se atenta ao tempo, tentando segurar a ampulheta, sua companheira inseparável nesta jornada,  e ao mesmo tempo, o  algoz de seus sonhos... 

A poeta  reafirma  em versos finais:  “Meu grito é inútil. Ninguém ouve a minha voz”.  E é essa coragem reveladora que a sua poesia alcança, e que nos leva a habitar essa morada.  Há mesmo esse despojamento revelador de perdas, às quais, a poeta  busca e tenta incessantemente  resgatar para dar a volta por cima; e é assim que  canta em seus versos, a   sua energia   rigorosa  para  viver o seu  tempo.  Nessa submersão que faz para  as regiões profundas desse mar a ser descoberto e desvendado,  seguimos sentindo a sua ânsia através das   palavras que nos engolem por inteiro na  missão da sua  poesia:  

 “... deixei meu rastro, mastro de minhas naves naufragadas (...) deixei meu sangue, rubro veneno que mata a mim mesma (...)”

 Arrisco dizer que a poesia de Dalva Altobelli, seguramente, trilha expoentes importantes da nossa literatura poética.  A seguir nessa trilha, a autora fará confirmar a intenção e o gesto.  A pessoalidade dela própria na poesia, que por instantes, poderia nos levar à simplicidade  do fazer poético, já no mesmo instante, agiganta-se, pela amplitude com que redesenha a sua e a nossa  viagem através dos versos:

 “Por mares singrados, deixei tempestades, brado insolente em busca do nada. Por outras vidas, deixei meu soluço, dor lancinante das minhas feridas.  Por você me afastei da luz, e hoje ardo sozinha nas trevas do meu próprio inferno”.

 Os versos de Dalva Altobelli, por vezes, flertam com rimas, no entanto, é a liberdade da sua escrita poética que transcende a sua verdade escondida,  e que faz  submergir ao leitor,  em imagens sutis e  inusitadas: 

 “ O ar rarefeito já sufoca. Nem mesmo meu grito sai da garganta estrangulada. Não sei  se tenho forças para chegar à beira da estrada . Não encontro cordas para sair do precipício.  E se as tivesse, meus braços estão inertes. O ar é vidro moído, o soluço é baixo”.  

 Em um paralelo oportuno, ainda que deva ser melhor aferido,  lembro aqui versos do poema “O Mergulhador”, de Vinicius de Moraes, em uma estrofe primorosa que realça a busca e o descobrimento do poeta:  

 “(...) Amo-te os grandes olhos sobre-humanos/ Nos quais, mergulhador, sondo a escura voragem/ Na ânsia de descobrir, nos mais fundos arcanos/ Sob o oceano, oceanos;  e além, a minha imagem (...)”

 O ar rarefeito, quase inexistente, e brutamente feito de “vidro moído”, bem como, o sofrimento silencioso de Altobelli, revelado para si mesma em  “soluço baixo”, também, como ao “poetinha maior”,  nos indica e reforça a sua busca e o desvendamento do seu mundo.  Essa é  a trilha poética de Dalva Altobelli. Enxergamos nela, a poesia sem freios para o pensamento, pois como acentua e informa:  “o pensamento alcança mar aberto e sem fronteiras, aporta no infinito”

A poesia de Dalva Altobelli é assim, um  alter ego de si mesma... uma marinheira que sofre feliz porque  tem o mar infinito como estrada. A nós, leitores, cabe seguir-lhe os passos, e aproveitar ao máximo esse  caminho. 

 

 

 

Texto:  Celso Lopes     elipse84@terra.com.br    Julho/2020


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