sábado, 19 de setembro de 2020

A LARANJA E O BEIJA FLOR (Resenha sobre "REFLEXÕES" - J.A.Palma)

 

                                       “A  LARANJA E O BEIJA-FLOR”



Tive o prazer de ler o livro “REFLEXÕES”, do escritor  João Augusto Palma,  nosso Maestro e Confrade na ALAGUARÁ. Dele também são “Coletânea” (escritos diversos) e “Publique no Face”.   

O título dessa pequena resenha, propõe-se a ilustrar, em parte, a trajetória de um  autor que, ainda precoce, foi identificado pelo Professor, através de uma  redação criativa, e por que não dizer,  digna de elogios, cujo título premia um item da  nossa flora: “O fim trágico de uma Laranja”; o texto, escrito pelo então aluno da 2ª. Série do  antigo ginasial, já impregnava os traços da sua inquietude diante da existência e do existir. Confira um trecho  da redação:   “(...) Depois de arrancar a minha pele, apertando-me com força, chupou todo o meu sangue e me jogou pela calçada quase morto.(...)  um garoto brincando pela rua, ao me ver corre em minha direção e me chuta para o bueiro da esquina, que quando caio  sou levado pelas águas a um riacho, do riacho ao rio, do rio ao mar, e do mar...”

Creditamos aqui, nosso reconhecimento ao Mestre e, claro, aos passos promissores e desafiadores do aluno João Palma.   O livro, já na introdução, sintetiza e aponta os caminhos escolhidos e inspirados pelo autor que, como uma prévia do que vamos ler, apresenta-nos  um olhar profundo sobre o “amor”, o “tempo”, a “natureza e o Criador”, além de outros tópicos entremeados às suas convicções evolutivas sobre e para o ser humano. E questionamentos não lhe faltam, seja em prosa ou poesia/letra de música, como neste caso: (...) poder ter uma pequena ideia / como deve ser o céu, ser o céu...”.

A título de sugestão para futuros leitores de “REFLEXÕES”, vale dizer que o autor pinça títulos, que por si só, retratam e nos direcionam para um desvendamento interior,  uma descoberta, e sem dúvida, perguntas profundas que João Palma se propõe a responder. Senão, vejamos:  “Limpar o coração”, “O mundo é um bom lugar?”, “ O Livro-caixa”, “Quem fala por mim?”, “Estado de Espírito”, “Irmãos”, “ A Fé (cérebro ou coração?)”, “Como poderemos obter a Paz?”, “O tripé da vida”, “Compaixão”, “Vibrações de Amor”, “ A voz que não ouvimos”, “O homem interior”. E há outros textos, incluindo uma “quase dedicatória” aos amigos. “Existe algum privilégio na vida que seria maior do que ter tido a oportunidade de ter alguns amigos extraordinários?” “Diz o ditado” - continua João Palma: “de amigos verdadeiros não conseguimos encher uma mão”, entretanto, acrescenta: “posso ter sido privilegiado (...) precisaria de mais mãos.”.

Soma-se aos textos, um Epílogo, em que o autor põe sobre a mesa “as grandes verdades por ele adotadas”, perpassando assim, ora pela grandeza do Criador, ora pela finitude do homem, o sentido da existência, a presença de Deus, a morte  e as leis da Natureza.

REFLEXÕES, do escritor João Palma, exige sim,  concentração, mas sem dúvida, o leitor é amparado pela sua  habilidade de condução sobre os temas vários, onde, por vezes, faz uso de  citações: – “Na casa do meu Pai existem várias moradas.” (João 14,2); e  para esclarecer ao leitor sobre a amplitude desse entendimento, assim exemplifica: “ A Terra é uma dessas inúmeras moradas onde a alma de Deus poderia habitar (...) o Ser Supremo criou um lugar com intenção de torná-lo abrigo e notou que isso era bom (...) a Terra é o palco onde se desenvolve uma peça teatral e que tem como enredo, a nossa vida (...) bem desenvolvida a história, o cenário  será grandioso (...)”.

No texto “Quem fala por mim?”, Palma utiliza-se dos sentidos físicos, como o tato,  visão,  audição,  paladar,  olfato, e também a fala/comunicação, para acrescentar (e aprofundar) seus questionamentos. Por isso, afirma que  os sentidos são importantes, mas não são os únicos, pois “quem fala por mim é o meu coração e a minha mente”. E aliando reforço, vem em nosso socorro para esclarecer  de pronto:  “Jesus disse que não devemos nos preocupar com o que entra pela boca, mas sim com o que dela sai.” (Mt.15,11).   As perguntas de João Palma em “Uma vida ideal” são aquelas que faríamos, como por exemplo: Qual é a paz que desejamos? Qual é a tranquilidade que buscamos? A convivência que queremos?, entretanto, são as respostas do autor que nos colocam  atentos, pois, como diz:  “ Nada cairá do céu. Tudo o que desejamos temos que buscar , usando a nossa força interior, embasada na qualidade da nossa índole.”

No texto “Irmãos”, mais que oportuno,  o autor se apropria do sonho eterno de Martin Luther King – “ aprendemos a voar, e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.”, e como ele, também clama  por valores imprescindíveis como  ‘tolerância’  e  ‘fraternidade universal’. Não é sem razão que em seu brado. João Palma exclame alto: “- Ah! meu querido Deus!...Quão nos poderíamos seres humanos se extasiar da tua magnitude (...)”

 Em “Estado de Espírito”, fazendo uso de posturas propositivas, como participação, atenção, alegria, responsabilidade, confiança, benevolência, etc.,   João Paulo escreve, por assim dizer, ‘lições’ que equivalem a um “epitáfio vivo” dele próprio, pois promete se tornar, continuadamente, ‘um ser cada vez melhor’.  E é o que ele referenda no texto “Relacionamento”, em que faz uso de um trecho do “Pequeno Príncipe”, detidamente, no  diálogo com a Raposa: “- Por favor, cativa-me – disse ela. (...) Se tu queres um amigo, cativa-me!...Que é preciso fazer? – perguntou o principezinho. “- É preciso ser paciente (...)  – respondeu a Raposa.”

Tão certo como as lições ‘Saint-Exupéry’, autor do Pequeno Príncipe, há ainda, um mundo a ser desvendado no universo das reflexões de João Augusto Palma. A resenha, no entanto, ao finalizar, buscou premiar um item em que o autor, agora, utiliza-se de um elemento da fauna para transcender os caminhos da sua  viagem reflexiva. A poucos passos de uma parábola, neste caso, contemporânea,  o texto “Beija-flor” é um instante apoteótico, afinal, nasce do pequeno tempo em que uma ave (beija-flor) permanece presa (sem saber como sair) dentro da casa, mais precisamente, na cozinha. O episódio, sem intenção, reúne parte da família – todos dispostos a livrar o beija-flor daquela estranha prisão. E libertá-lo, claro. E dessa simplicidade, dessa miudeza do cotidiano,  João Palma alcança a sua grandeza. Diz para o filho: “Olha o que é a natureza!...Ele (beija-flor)  está, instintivamente, buscando o alto (...) o seu único comando é subir, pois sempre foi assim em sua trajetória de vida (...).   A lição ali contida, revista pelo autor,  culmina numa excelente reflexão  e discernimento sobre a existência frágil e desorientada de tantos e tantos  seres humanos. Enfatiza, ainda, o autor: “ - Voltei às minhas rotineiras atividades quietas, serenas, pois era o primeiro domingo de um novo milênio”. E “novo milênio”, como sabemos, pode sim, conter novos sinais de inquietude com o porvir. 

 

Texto:  Celso Lopes   elipse84@terra.com.br   11 98487 1193

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