“A LARANJA E O BEIJA-FLOR”
Tive o prazer de ler o livro “REFLEXÕES”, do escritor João Augusto Palma, nosso Maestro e Confrade na ALAGUARÁ. Dele também são “Coletânea” (escritos diversos) e “Publique no Face”.
O título dessa pequena
resenha, propõe-se a ilustrar, em parte, a trajetória de um autor que, ainda precoce, foi identificado
pelo Professor, através de uma redação
criativa, e por que não dizer, digna de
elogios, cujo título premia um item da
nossa flora: “O fim trágico de uma
Laranja”; o texto, escrito pelo então aluno da 2ª. Série do antigo ginasial, já impregnava os traços da
sua inquietude diante da existência e do existir. Confira um trecho da redação: “(...) Depois de arrancar a minha
pele, apertando-me com força, chupou todo o meu sangue e me jogou pela calçada
quase morto.(...) um garoto brincando
pela rua, ao me ver corre em minha direção e me chuta para o bueiro da esquina,
que quando caio sou levado pelas águas a
um riacho, do riacho ao rio, do rio ao mar, e do mar...”
Creditamos aqui, nosso
reconhecimento ao Mestre e, claro, aos passos promissores e desafiadores do
aluno João Palma. O livro, já na introdução, sintetiza e aponta
os caminhos escolhidos e inspirados pelo autor que, como uma prévia do que
vamos ler, apresenta-nos um olhar
profundo sobre o “amor”, o “tempo”, a “natureza e o Criador”, além de outros
tópicos entremeados às suas convicções evolutivas sobre e para o ser humano. E
questionamentos não lhe faltam, seja em prosa ou poesia/letra de música, como
neste caso: “ (...)
poder ter uma pequena ideia / como deve ser o céu, ser o céu...”.
A título de sugestão para
futuros leitores de “REFLEXÕES”, vale dizer que o autor pinça títulos, que por
si só, retratam e nos direcionam para um desvendamento interior, uma descoberta, e sem dúvida, perguntas
profundas que João Palma se propõe a responder. Senão, vejamos: “Limpar o coração”, “O mundo é um bom
lugar?”, “ O Livro-caixa”, “Quem fala por mim?”, “Estado de Espírito”,
“Irmãos”, “ A Fé (cérebro ou coração?)”, “Como poderemos obter a Paz?”, “O tripé
da vida”, “Compaixão”, “Vibrações de Amor”, “ A voz que não ouvimos”, “O homem
interior”. E há outros textos, incluindo uma “quase dedicatória” aos amigos. “Existe
algum privilégio na vida que seria maior do que ter tido a oportunidade de ter
alguns amigos extraordinários?” “Diz
o ditado” - continua
João Palma: “de
amigos verdadeiros não conseguimos encher uma mão”, entretanto,
acrescenta: “posso ter sido privilegiado (...)
precisaria de mais mãos.”.
Soma-se aos textos, um Epílogo,
em que o autor põe sobre a mesa “as grandes verdades por ele adotadas”,
perpassando assim, ora pela grandeza do Criador, ora pela finitude do homem, o
sentido da existência, a presença de Deus, a morte e as leis da Natureza.
REFLEXÕES, do escritor João
Palma, exige sim, concentração, mas sem
dúvida, o leitor é amparado pela sua habilidade de condução sobre os temas vários,
onde, por vezes, faz uso de citações: – “Na casa do meu Pai existem várias
moradas.” (João 14,2); e para esclarecer
ao leitor sobre a amplitude desse entendimento, assim exemplifica: “ A Terra é uma dessas
inúmeras moradas onde a alma de Deus poderia habitar (...) o Ser Supremo criou
um lugar com intenção de torná-lo abrigo e notou que isso era bom (...) a Terra
é o palco onde se desenvolve uma peça teatral e que tem como enredo, a nossa
vida (...) bem desenvolvida a história, o cenário será grandioso (...)”.
No texto “Quem fala por
mim?”, Palma utiliza-se dos sentidos físicos, como o tato, visão, audição, paladar, olfato, e também a fala/comunicação, para
acrescentar (e aprofundar) seus questionamentos. Por isso, afirma que os sentidos são importantes, mas não são os
únicos, pois “quem fala
por mim é o meu coração e a minha mente”. E aliando reforço, vem em nosso socorro para esclarecer de pronto: “Jesus disse que não devemos nos preocupar
com o que entra pela boca, mas sim com o que dela sai.” (Mt.15,11). As perguntas de João Palma em “Uma vida
ideal” são aquelas que faríamos, como por exemplo: Qual é a paz que desejamos?
Qual é a tranquilidade que buscamos? A convivência que queremos?, entretanto,
são as respostas do autor que nos colocam atentos, pois, como diz: “
Nada cairá do céu. Tudo o que desejamos temos que buscar , usando a nossa força
interior, embasada na qualidade da nossa índole.”
No texto “Irmãos”, mais que
oportuno, o autor se apropria do sonho
eterno de Martin Luther King – “
aprendemos a voar, e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como
irmãos.”, e como ele, também clama por
valores imprescindíveis como ‘tolerância’
e ‘fraternidade universal’. Não é sem razão que em
seu brado. João Palma exclame alto: “- Ah! meu querido Deus!...Quão nos poderíamos
seres humanos se extasiar da tua magnitude (...)”
Em “Estado de Espírito”,
fazendo uso de posturas propositivas, como participação, atenção, alegria, responsabilidade,
confiança, benevolência, etc., João Paulo escreve, por assim dizer, ‘lições’ que
equivalem a um “epitáfio vivo” dele próprio, pois promete se tornar,
continuadamente, ‘um ser cada vez melhor’. E é o que ele referenda no texto
“Relacionamento”, em que faz uso de um trecho do “Pequeno Príncipe”,
detidamente, no diálogo com a Raposa: “- Por favor, cativa-me – disse ela. (...)
Se tu queres um amigo, cativa-me!...Que é preciso fazer? – perguntou o
principezinho. “- É preciso ser paciente (...)
– respondeu a Raposa.”
Tão certo como as lições ‘Saint-Exupéry’,
autor do Pequeno Príncipe, há ainda, um mundo a ser desvendado no universo das
reflexões de João Augusto Palma. A resenha, no entanto, ao finalizar, buscou
premiar um item em que o autor, agora, utiliza-se de um elemento da fauna para
transcender os caminhos da sua viagem
reflexiva. A poucos passos de uma parábola, neste caso, contemporânea, o texto “Beija-flor” é um instante
apoteótico, afinal, nasce do pequeno tempo em que uma ave (beija-flor) permanece
presa (sem saber como sair) dentro da casa, mais precisamente, na cozinha. O
episódio, sem intenção, reúne parte da família – todos dispostos a livrar o
beija-flor daquela estranha prisão. E libertá-lo, claro. E dessa simplicidade,
dessa miudeza do cotidiano, João Palma
alcança a sua grandeza. Diz para o filho: “Olha o que é a natureza!...Ele
(beija-flor) está, instintivamente,
buscando o alto (...) o seu único comando é subir, pois sempre foi assim em sua
trajetória de vida (...). A lição ali
contida, revista pelo autor, culmina numa
excelente reflexão e discernimento sobre
a existência frágil e desorientada de tantos e tantos seres humanos. Enfatiza, ainda, o autor: “ - Voltei às minhas rotineiras
atividades quietas, serenas, pois era o primeiro domingo de um novo milênio”. E
“novo milênio”, como sabemos, pode sim, conter novos sinais de inquietude com o
porvir.
Texto: Celso Lopes elipse84@terra.com.br
11 98487 1193
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