1º. CONCURSO
LITERARIO DE REGISTRO – PRÊMIO GUARACUÍ
2019
A Prefeitura de Registro, por meio da Secretaria Municipal de Cultura,
Turismo e Economia Criativa, divulga o resultado e convida para a cerimônia de
premiação dos vencedores do 1º Concurso Literário de Registro – Prêmio
Guaracuí. O concorrido concurso, em nível estadual, tem o objetivo dar
oportunidade de expressão, valorizar e estimular o trabalho dos escritores
registrenses e de todo o Estado de São Paulo, nas categorias de Conto e Poesia.
Em sua primeira edição, o Prêmio Guaracuí, teve 395 inscrições – 193
contos e 202 poemas, com procedência de mais de 100 municípios paulistas, já
considerado um sucesso. Na sequência, para avaliação dos trabalhos, foi
constituída uma Comissão de Seleção de Excelência, desafiada a apresentar os
vencedores desta primeira edição.
O prefeito, Nilton Hirota, destacou a importância do concurso literário
para o estímulo à produção literária e o empenho da equipe de produção da
Secretaria Municipal de Cultura, além da quantidade e qualidade dos trabalhos
inscritos. “É o início de mais um certame que reflete o fortalecimento das
artes e a possibilidade de Registro referenciar projetos culturais na região e
em todo o Estado de São Paulo. Isso é reflexo direto desse trabalho. Vamos
continuar fomentando a cultura, as artes e toda a possibilidade de exercitar a
sensibilidade humana”, ressaltou o prefeito.
“Para nós da Secretaria de Cultura, receber essa resposta tão intensa do
público serve de combustível para o fortalecimento das ações culturais, tanto
de formação como de difusão. Investir em Cultura é investir na formação de um
cidadão cada vez melhor. Já estamos programando a segunda edição do Prêmio
Guaracuí de Literatura”, afirmou o Secretário de Cultura, Carlos Júnior. A cerimônia de premiação acontecerá no próximo
dia 18 de outubro, às 20h, no Centro da Juventude “Gabi Bertelli”, à Avenida
Cecy Teixeira de M. Almada, 1055 – Jd. Caiçara I (Centro Social Urbano), em
Registro.
A COMISSÃO DE SELEÇÃO:
Com a perspectiva de transformar o Prêmio Guaracuí em uma referência no
Estado de São Paulo, a Prefeitura depositou a responsabilidade da seleção em um
trio de “peso”, com reconhecido envolvimento com o segmento literário, são
eles:
Antônio Carlos de Moraes Sartini - advogado atua há 30 anos na área da
Cultura. Ocupou vários cargos na Secretaria de Cultura e Economia Criativa do
Governo do Estado de São Paulo. Entre 2006 e 2016 foi Diretor do Museu da
Língua Portuguesa. Curador da 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
(2012); Curador do Prêmio Jabuti de Literatura (2013 até 2017); Curador do
Prêmio São Paulo de Literatura (2017). Atualmente é membro da Comissão de
Difusão de Conteúdos em Língua Portuguesa e da Comissão de Seleção de Obras Literárias
para a TV Cultura, ambas as comissões da CBL - Câmara Brasileira do Livro.
Sandra Regina Ferro Espilotro - Bacharel e Mestre pela Universidade de São Paulo. Editora
executiva e diretora geral da Globo Livros (1989–2011). Diretora editorial para
o Mercado Internacional na Ediouro/Nova Fronteira (2011–2014). Participou de
mais de 20 Feiras de Frankfurt e 18 Feiras de Londres. Jurada e curadora do
Prêmio São Paulo de Literatura (2013-2017). Diretora e sócia da e-galáxia
(www.e-galaxia.com.br), editora especializada em e-books e referência na área
de livros digitais no Brasil. Professora regular em cursos de MBA sobre edição
e publicação de livros. Integra a União Brasileira de Escritores.
Paula Valéria Andrade - é poetisa, escritora, artista visual, diretora de arte e
professora universitária em cinema. Recebeu prêmios em: Portugal, Itália, EUA,
Alemanha e no Brasil: Jabuti e APCA. Em 2016, ganhou "Menção Honrosa"
na FALARJ. Tem mais de 20 livros publicados entre: infantil, poesias,
didáticos, antologias, contos e livros de arte. São de sua autoria as obras
“Amores, Líquidos e Cenas”, poesia, de 2018; editora Laranja Original e “A
Pandemia da Invisibilidade do Ser”, poesia, de 2019; da Editora Algaroba,
lançado na Flip Paraty.
O RESULTADO Nesta primeira edição, os três
melhores trabalhos de cada modalidade receberão certificados, troféus e
premiação em dinheiro. Modalidade
CONTO 1º – O necrológio dos vivos Lidiane Santana – Mauá/SP 2º – Álbum de
fotos Gabriel Vicente França – São
Paulo/SP 3º – O benzedor de tempestade Júlio César da Costa – Miracatu/SP
Menções honrosas:
Ponto de vista de um soldado vermelho –
Felipe de Lara Janz (São Paulo/SP), Palácio Visconde de Palmeira – João Pedro
Boria Caiado de Castro (São Vicente/SP), Empurra que pega – Marco Ubiratan
Miranda Castro Araújo (São Paulo/SP), A história de um homem inventado – Ana
Helena Ribeiro Garcia de Paiva Lopes (São Carlos/SP),
As moças! – Celso
Antônio Lopes da Silva (São Paulo/SP).
Modalidade POESIA 1º – Sombra Paulo Ludmer – São Paulo/SP 2º –
Autobiografia Rafael Martins do
Nascimento – São José do Rio Pardo/SP 3º
– Árvores coloridas Alessandro José Padin Ferreira – Praia Grande/SP Menções honrosas: Os homens que queimam
estrelas – Matheus Morais Alves Dias (São Paulo/SP), Bem Dito – Moisés Sesion
da Costa (Campinas/SP), A odisseia da motosserra sem alma – Gerson Augusto
Gastaldi (São Paulo/SP), O Brasil em 140 versos – Emanoel Santos Fernandes
(Sorocaba/SP).
Rodolfo Corrêa Produtor Cultural Tel : (13) 3822-4492 Secretaria de Cultura, Turismo e Economia
Criativa de Registro/SP
Leia o texto de Celso Lopes
“AS
MOÇAS!...”
Dr.
Júlio dorme a sono solto. Mas nem tudo são flores. O sono, há pouco parecia
tranquilo, agora, é visível que lhe
causa sobressalto. Dr. Júlio rola na cama e o suor lhe chega em bicas,
com a sonoridade de um
pesadelo. Sem dúvida, Dr. Júlio ouve uma voz:
“-
POIS EU LHE DIGO, DOUTOR JÚLIO... ENQUANTO FORES SOLTEIRO, A SUA INDICAÇÃO NÃO
SAI!... O CARGO EXIGE RESPONSABILIDADE DE HOMEM CASADO, UM PAI DE FAMÍLIA!...
PORTANTO, OU CASAS OU FICAS SEM O
PÔSTO!..”
A toalha
de rosto livra-o do suor, enquanto ele
olha o
retrato das três mulheres sobre a escrivaninha, buscando convencer a si
mesmo sobre cada uma delas: - LUISA é
morena e linda; ISABEL tem cabelos cacheados; e DONA ANINHA é rechonchudinha....Dr. Júlio deixa ver em seus olhos e na sua própria voz, a imagem da indecisão:
- Pobre de ti, doutor Júlio!...
como não imaginou que elas poderiam ser amigas?... Luisa conhece Isabel que conhece
Dona Aninha que conhece Luísa... pobre de mim... quanto me custa decidir por
uma delas!?...
Dr.Júlio
apanha as fotos e caminha em círculos: “-
Ah!... Isabel é formosa... e neta do Comandante Eustáquio.... Luísa é a própria
lua cheia!... e afilhada do senador Feijó...Dona Aninha é cheia de
predicados... e o melhor deles é ser filha do Procurador Mendonça... uma palavra do pai e lá estarei eu como o novo diretor de
Repartição, com casa, comida e férias em Nova Friburgo!...”.
Pouco
depois, Dr. Júlio segue pelas ruas a
caminho do Almoxarifado, onde ocupa vaga, falando aos borbotões: “ - Calma,
Doutor Júlio, calma!... as fotos estão contigo, e bem guardadas!... na certa
elas não sabem de nada... mas,
decida-se, homem... ou Luísa, ou Isabel, ou Dona Aninha?... Não!... Ou Isabel,
ou dona Aninha ou Luísa?... Não!...”
Dias
depois, Dr. Júlio está frente a frente
com Isabel. O nervosismo salta-lhe nos
gestos, causando-lhe um suor frio diante da moça:
- Negas que tem um retrato de Luisa e
Dona Aninha? – insiste Isabel.
- Umas namoradeiras....deram-me a foto para
lembrança!...replica Dr. Júlio,
- Mas, bem que certa vez fizeste elogios
a elas, lembras?...
- Só tenho olhos para ti, querida
Isabel!...
- Então, acenas com o noivado, casamento
e depois lua de mel ?!...
Dr.
Júlio esquiva-se e sai. Agora pela
segunda vez está diante da bela Luisa:
-
Doutor Júlio Simões de Alcobaça Nunes!.. ou Isabel ou Dona Aninha ou eu?
- Acredite, minha Luisa... tuas amigas
não te contaram tudo!...
- Não?!... mas negas que dissestes
palavras lisonjeiras a elas, negas?
- Não nego, mas Isabel aproveitou-se da
amizade e Dona Aninha atirou-me o
Pai nas fuças... o que eu poderia fazer?... Juro-te!...
- Então, confirmas nosso noivado,
casamento e a lua de mel em Friburgo!?
Pouco
depois, cara a cara com Dona Aninha que
come um brigadeiro e cobra-lhe respostas
imediatas:
- Mentiste, não foi, Doutor Júlio... ou
negas?
- Minha boa Aninha... tuas amigas te
querem pelas costas, não vês?
- Guardavas as fotos de Luisa e Isabel,
Dr. Júlio?...
- O que fazer?... uma lembrancinha,
disseram elas!....
- Te perdoo... mas, noivado, casamento e a lua de mel em
Friburgo, sim?
Tarde
da noite, bem tarde, mas Dr. Júlio está lá,
novamente, na escrivaninha. As fotos de LUISA,
ISABEL e DONA ANINHA parecem seguir diante dos
seus olhos, à espera de uma decisão urgente:
“- Não vaciles, Doutor Júlio... Seja homem..
escolha uma e pronto!.. as outras hão de te odiar para sempre!... - Sim, é
isso, decido-me por Luísa e ponto
final!...
Em casa,
LUISA está embevecida pelo visitante e lhe faz a sala junto com a mãe. Neste
momento, Dr. Júlio chega; mas é Dona Graça, a mãe, quem lhe faz as apresentações:
-
Ah! Doutor Júlio, deixe-me apresentar... este é o Tenente...
- Capitão, mamãe, Capitão! - interrompe Luísa, corrigindo a genitora.
- Como vês, Doutor Júlio, querem me rebaixar o posto – ironiza o
visitante.
- Me confundem, as patentes – revela,
timidamente, dona Graça.
- Minha querida Luísa, Dona Graça vai te
dizer algo - informa o Capitão.
- Bem, filha... o tenente, quer dizer...
o Capitão... pediu-te em casamento!...
Luisa
sorri afirmativa, envaidecida e
deslumbrada. Seus olhos contemplam o Capitão. Doutor
Júlio esquiva-se, esquiva-se urgente, porta afora. Uma voz interna lhe
chega desabaladamente: “- Ora, Doutor
Júlio... agradeças ao destino e ao Capitão... isso poupou-lhe uma decisão... ótimo
e pronto!...
ISABEL
e a mãe recebem o visitante e conversam
de forma amistosa. Em instantes, a presença do Doutor Júlio e as apresentações que o
atordoam:
- Machado?!... Machado?!... – balbucia
Dr. Júlio.
- Um seu criado, Doutor Júlio... ausentei-me
para escrever um romance!...
- Machado?!... Machado?!... – reitera
Dr. Júlio.
- Prometes vir para o noivado, Doutor
Júlio? – diz a mãe de Isabel.
- Noivado? ... Sim, claro.. Não, sim...
Machado?!....
-
Aceite meu livro, Dr.Júlio, trato
da Alma Feminina... Ah!...as mulheres!..
- As Moças!... As Moças!.. - Doutor Júlio lê
o título do romance em voz alta.
- O que lhe parece o título, Doutor
Júlio, gostas!? – pergunta-lhe o escritor.
Dr.
Júlio põe-se, silenciosamente, porta afora, sem mesmo gesticular um adeus. O som cadenciado da sua bengalinha e a voz sonora e
repetitiva ganham relevo pela rua: “- As Moças!...As Moças!.. As Moças!...
DONA ANINHA, está junto à janela da sua casa. Tem companhia
masculina e acena para o Dr. Júlio:
“- Bons dias, Doutor Júlio.. reatei-me com o Avelar, mas já estás convidado
para o casamento!... Ah! Doutor Júlio, o Avelar assume na Repartição
Federal, será o novo diretor de Inspeção
e Fiscalização!...”.
Doutor
Júlio está delirante e parece não atinar
com o que lhe diz Dona Aninha.
Segue desorientado rua abaixo e rua acima, cada vez mais transtornado em seu
monocórdio: - As Moças!...- Machado!...
As Moças!...- Noivado!...- Machado!... As Moças!..”.
Pseudônimo: Mr. Olímpico
Nota: Narrativa inspirada livremente no conto ‘Casa, não casa’, de
Machado de Assis. Texto-fonte: Obra Completa, Machado de Assis, vol.
II, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Publicado originalmente em Jornal
das Famílias, de 12/1875 a 01/1876.