sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

MESA COM VINHOS Poesia

 

       Academia de Letras e Artes de Araguari

                                  (Menção Honrosa)


“MESA COM VINHOS

 

Olhar o tampo da mesa  é olhar o Tempo....

e ver nele  Jacarandás, Mognos, Cedros, Carvalhos,

Castanheiras, Angicos   e  Jatobás...

Olhar o tampo da mesa  é olhar o Tempo...

e sentir ali, impregnados, a maciez e a exuberância

na ancestralidade centenária de  cada árvore...

Olhar o tampo da mesa  é olhar o Tempo....

e ver diluído em suas veias, a ebulição  das tintas brancas

de Airéu, Palomino, Macabeo ou  o rojo febril do Tempranillo

Garnacha e Monastrel...

Olhar o tampo da mesa  é olhar o Tempo...

que nos sonda além-arisco  empunhando motosserras...

e nos ronda  primos-cúmplices  pela queda do  Jacarandá

de vida quatrocentona,  e que deita e rola nas clareiras

abertas das florestas de agora  e d’outrora.

Olhar o tampo da mesa  é olhar o Tempo...

e sentir com  olhos atentos  os caminhos de uma caça abatida,

a deslizar, inerte,  pelas  águas turvas de um sinuoso rio das Toras...

Olhar o tampo da mesa é olhar o Tempo...

e edificá-lo em formas visíveis de um Patanegra Oro,

Tempranillo, Sangue de Toro, Toro loco  e Albariños da Galícia...

Martin Códax, a homenagear os trovadores galegos  d’antanho,

nas poéticas Cantigas de Amigo...

Olhar o tampo da mesa  é olhar o Tempo...

a rodopiar por entre os convivas, na dimensão da madeira bruta,

a ser lavrada,  esculpida, eternizada em luta contra as intempéries,

e torneada à  nuances de luzes que alcancem um outro Universo.  

 

Texto:  Celso Lopes

 

 

 

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