Ando à míngua,
trago comigo todas
as línguas-mortas
na ponta da minha
língua.
Uma outra linguagem, o
que sou:
surda-muda.
Ando à míngua...
à espera de um aceno no
reino do universo,
e então serei farto em
prosa e verso:
Vou me saciar a pleno
pulmões,
e não há de estuporar
essa íngua,
pois recusarei o
banquete de Pélope
e não viverei o suplício de Tântalo*...
Nunca mais a fome,
nunca mais a sede...
Seguirei ímpar,
multilíngüe, como sei, como sou,
incansável decifrador de hierógrafos,
sou a nave-mãe levando
o meu epitáfio para o futuro:
“saudações,
quem quer que seja.
Trago
boa vontade e paz através do espaço”**
(*) Tântalo,
filho de Zeus, casado com Dione, teve três filhos. Ousando testar os deuses, serviu-lhes a carne do próprio
filho Pélope. Lançado ao Tártaro, num vale com abundante vegetação e água, foi castigado
a não poder saciar sua fome nem a sede.
(**) Paráfrase à mensagem da Missão Espacial Européia em pesquisa sobre
a origem do sistema solar e a vida na terra, cuja nave-mãe recebeu o nome de
Rosetta.
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