segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ESTUPOR (mensagem intergaláctica)




Ando à míngua, 
trago comigo todas as  línguas-mortas
na ponta da minha língua.
Uma outra linguagem, o que sou:
surda-muda.
Ando à míngua...
à espera de um aceno no reino do universo,
e então serei farto em prosa e verso:
Vou me saciar a pleno pulmões,
e não há de estuporar essa íngua,
pois recusarei o banquete de Pélope
e  não viverei o suplício de Tântalo*...
Nunca mais a fome, nunca mais a sede...
Seguirei ímpar, multilíngüe, como sei, como sou,
 incansável decifrador de hierógrafos,
sou a nave-mãe levando o meu epitáfio para o futuro:
“saudações, quem quer que seja.
Trago boa vontade e paz através do espaço”**





(*) Tântalo, filho de Zeus, casado com Dione, teve três filhos.  Ousando testar  os deuses, serviu-lhes a carne do próprio filho Pélope. Lançado ao Tártaro, num vale com abundante vegetação e água,  foi castigado  a não poder saciar sua fome nem a sede. 
(**) Paráfrase à mensagem da Missão Espacial Européia em pesquisa sobre a origem do sistema solar e a vida na terra, cuja nave-mãe recebeu o nome de Rosetta.

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