Fatiar a água
e
servi-la aos pedaços...
Agarrar
o tempo sob os braços e adulá-lo
tão
eternecido como se afagasse um filho
ao
som de um estribilho de ninar...
Fatiar a água
e
servi-la em porções...
Celebrar
o instante em banho-maria:
reservar
no mais sublime dos corações,
o
calor de dois corpos que se atraem
em
frenética paixão...
Fatiar a água
e
torná-la hóstia...
E
então ser capaz da pura calma
ao
comer o próprio corpo
e
sorver-lhe a primazia da alma:
enxergar
a revelação do fugaz,
a
transitoriedade da vida,
o
frágil e a sensibilidade
em
seu ápice de concretude.
Fatiar a água
e
assentá-la, ainda incandescente,
por
entre as labaredas do fogo.
Dominar
na fervura, os desejos do corpo
e
da alma: traduzir em gestos nus
a
ansiedade candente no âmago
da
mais profunda calma.
Fatiar a água
e
conduzi-la em carruagens-origami
pelas
galáxias infindáveis do universo...
tocar
na razão e no existir de todas as formas de vida,
e traduzi-la
sem meias palavras:
trincar
o passado...ruir o presente
e
reinventar o Avatar do novo futuro.
Fatiar a água
e esculpi-la como um barco-navegante
aos
mares de si mesmo:
rumo
à terra dos homens dignos,
à
espraiada da inocência e compreensão,
rumo
ao país de todos os amores.
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