segunda-feira, 24 de agosto de 2015

“O BORBULHO DAS ÁGUAS”


Fatiar a água
e servi-la aos pedaços...
Agarrar o tempo sob os braços e adulá-lo
tão eternecido como se afagasse um filho
ao som de um  estribilho de ninar...

Fatiar a água
e servi-la em porções...
Celebrar o instante  em banho-maria:
reservar no mais sublime dos corações,
o calor  de dois corpos que se atraem
em frenética paixão...

Fatiar a água
e torná-la hóstia...
E então ser capaz da pura calma
ao comer o próprio corpo
e sorver-lhe a primazia da alma:
enxergar a revelação do fugaz,
a transitoriedade da vida,
o frágil e a sensibilidade
em seu ápice de concretude.

Fatiar a água
 e assentá-la, ainda incandescente,
por entre as labaredas do fogo.
Dominar na fervura, os desejos do corpo
e da alma:  traduzir  em gestos nus
a ansiedade candente no âmago 
da mais profunda calma.

Fatiar a água
e conduzi-la em carruagens-origami
pelas galáxias infindáveis  do universo...
tocar na razão e no existir de todas as formas de vida,
e  traduzi-la  sem meias palavras:
trincar o passado...ruir o presente
e reinventar o Avatar  do novo futuro.

Fatiar a água
e  esculpi-la como um barco-navegante
aos  mares de si mesmo:
rumo à terra dos homens dignos,
à espraiada da inocência e  compreensão,
rumo ao país de todos os amores.

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